24 de março de 2011

Sempre me achei diferente das outras pessoas. Sempre achei que possuía qualidades únicas, que me distinguiam dos outros, que faziam de mim um ser complexo e incompleto, porém em busca de algo maior. Muito dramática, crítica, melancólica às vezes, outrora carismática, inteligente nos assuntos que me interessavam, engraçada com quem eu gostava, curta e grossa com quem merecia.

No entanto, me redescobri normal. Descobri que não tenho nada de especial. Aquele lance de que "devemos amar a nós mesmos" porque cada um é "único" e "especial" à sua maneira, já que "Deus não comete erros". Não vejo mais fundamento nisso. Não me sinto alguém interessante, destacável. Vinte anos se passaram e o que eu conquistei? Carteira de motorista?! O que já aprendi? Inglês?!

Minha vida é tão cômoda e normal que às vezes páro e penso "eu nunca seria capaz de aprender a tocar piano, ou um violino, ou a me comunicar por LIBRAS, ou inventar algo inovador, ou então organizar um sistema político, surfar, aprender mandarim, ou sei lá, islandês, dirigir um filme, escrever um livro, cantar, pintar um quadro bonito, ...". Penso infinitas coisas que eu não seria capaz de fazer e que mesmo se eu quisesse, eu não conseguiria, porque dadas as proporções das coisas que aprendi em 20 anos, em mais 20 eu não faria nem meia metade do que eu gostaria! Ui...

Resumindo, tenho me sentido só mais uma pessoa nesse mundo de muitas³ pessoas, nesse mundo de muitas pessoas que não são nada e não querem ser nada, nesse mundo de muitas pessoas que não são nada e não querem ser nada e nunca nem serão nada. E isso me entristece. Porque o potencial é muito grande, mas a vontade, o tempo, a própria cultura que quero aprender também me sufoca, porque me obriga a fazer coisas que, se eu tivesse que escolher, não faria. É um tal de "você precisa estudar, terminar o ensino médio, fazer uma faculdade, trabalhar, namorar, comprar uma casa, casar, pagar contas, ter filhos" filhos que serão mais pessoas em um mundo de muitas pessoas, que nunca serão nada.

12 de março de 2011

I believe in nothing, not the end and not the start;
I believe in nothing, not the earth and not the stars;
I believe in nothing, not the day and not the dark;
I believe in nothing, but the beating of our hearts;
I believe in nothing, one hundred suns until we part;
I believe in nothing, not in satan, not in god;
I believe in nothing, not in peace and not in war;
I believe in nothing, but the truth of who we are.

30 Seconds to Mars

10 de outubro de 2010

Juízo Final

Se o homem soubesse amar não elevaria a voz nunca, jamais discutiria, jamais faria sofrer. Mas ele ainda não aprendeu nada. Dir-se-ia que cada amor é o primeiro e que os amorosos dos nossos dias são tão ingênuos, inexperientes, ineptos, como Adão e Eva. Ninguém, absolutamente, sabe amar. D. Juan havia de ser tão cândido como um namoradinho de subúrbio. Amigos, o amor é um eterno recomeçar. Cada novo amor é como se fosse o primeiro e o último. E é por isso que o homem há de sofrer até o fim do mundo - porque sempre há de amar errado.

NELSON RODRIGUES

31 de agosto de 2010


One Art
The art of losing isn't hard to master;
so many things seem filled with the intent

to be lost that their loss is no disaster.


Lose something every day. Accept the fluster

of lost door keys, the hour badly spent.

The art of losing isn't hard to master.


Then practice losing farther, losing faster:

places, and names, and where it was you meant

to travel. None of these will bring disaster.


I lost my mother's watch. And look! my last, or
next-to-last, of three loved houses went.

The art of losing isn't hard to master.


I lost two cities, lovely ones. And, vaster,

some realms I owned, two rivers, a continent.

I miss them, but it wasn't a disaster.


---Even losing you (the joking voice, a gesture

I love) I shan't have lied. It's evident

the art of losing's not too hard to master

though it may look like (Write it!) like disaste
r.

ELIZABETH BISHOP

1 de agosto de 2010

Emília

- A vida, Senhor Visconde, é um pisca-pisca. A gente nasce, isto é, começa a piscar. Quem pára de piscar, chegou ao fim, morreu. Piscar é abrir e fechar os olhos - viver é isso. É um dorme-e-acorde, dorme-e-acorda, até que dorme e não acorda mais.
(...) A vida das gentes neste mundo, senhor sabugo, é isso. Um rosário de piscadas. Cada pisco é um dia. Pisca e mama; pisca e anda; pisca e brinca; pisca e estuda; pisca e ama; pisca e cria filhos; pisca e geme os reumatismos; por fim pisca pela última vez e morre.
- E depois que morre? - perguntou o Visconde.
- Depois que morre, vira hipótese. É ou não é?

30 de julho de 2010

Me isolar. Me isolar desse mundo. Se existe problema maior do que enfrentar as pessoas, é saber que elas te ignoram, te subestimam, não te levam a sério. Te dão as costas e te deixam desamparado, a chorar, a lamentar seus erros; e não voltam atrás. Nem se quer te atendem ao telefone, porque você não é mais digno de falar com elas, não é mais classificado como filho, amigo, irmão. Não há perdão. E quando não há perdão, não há chance de voltar a tudo como era; os bons sentimentos se esvaiem, as muito boas lembranças são esquecidas, os sorrisos já não significam mais nada e ninguém é capaz de olhar na cara de ninguém. É impressionante como um erro traz muito mais malefício do que momentos felizes trazem benefício. É impressionante como a dor é maior do que qualquer coisa boa que já lhe aconteceu; como dilacera, machuca, envenena. Não precisava ser assim... Pra dor de um único erro passar, são necessários n acertos para se sentir melhor. E pra se sentir melhor é preciso se isolar; se isolar das pessoas: assim não se acumulam erros.

23 de julho de 2010

I carry your heart with me (I carry it in my heart),
I am never without it (anywhere I go you go, my dear and whatever is done by only me is your doing, my darling),
I fear no fate (for you are my fate, my sweet),
I want no world (for beautiful you are my world, my true) and it's you are whatever a moon has always meant and whatever a sun will always sing is you.
Here is the deepest secret nobody knows (here is the root of the root and the bud of the bud and the sky of the sky of a tree called life; which grows higher than the soul can hope or mind can hide) and this is the wonder that's keeping the stars apart.
I carry your heart (I carry it in my heart).

- E.E. Cummings

22 de julho de 2010

tá vivo, então vive.

Me disseram hoje que um tio de seus 50 anos queria ser pai de novo. Respirei bem fundo e perguntei "essas pessoas com uma idade a mais não tem freio moral, não?". Responderam "ahh, que isso! Se tá vivo, tem que viver." É, acontece que viver é mais do que simplesmente procriar, OK? Já não teve filho uma vez? Por que não tentar algo diferente? Afinal, viver é experimentar de coisas novas, intrigantes, atraentes; é desfrutar das chances, das oportunidades, dos desejos; é conhecer, descobrir, quem sabe inventar. Adotar uma criança talvez seja uma boa ideia, não? Afinal, viver também é cuidar. Mas não exclusivamente daqueles relacionados por sangue; é cuidar da própria raça; é ser feliz sendo solidário, amável, paciente; é transmitir essa felicidade pras gerações por vir, pra que elas cresçam saudáveis, com ideias distintas, que mirabolem o mundo; não com o capricho egoísta de querer ter um filho aos 50 anos: deixará seu filho cedo, não verá seus netos, não estará lá quando seu filho precisar. ACORDE. Faça mais pelo seu mundo e ao redor do mundo; faça mais pelas pessoas que já estão aqui.

20 de julho de 2010


Feliz Dia do Amigo pros meus queridos mais chegados, pros meus queridos mais distantes; pros meus que não falo há tempos, pros meus que procuro e não acho, pros meus que me procuram e não me alcançam; pros meus recém chegados: muito bem-vindos, minha amizade até que não é de se jogar fora; pros meus virtuais, que conheço, embora desconheça; pros meus que são internacionais: I miss you all; pros meus rotineiros: convivência constante e necessária; pros meus extra-ordinários: convivência rara e saudosa; pra todos os meus... que são e possam vir a ser :)

Se alguma coisa me consome e me envelhece é que a roda furiosa da vida não me permite ter sempre ao meu lado, morando comigo, andando comigo, falando comigo, vivendo comigo, todos os meus amigos, e, principalmente os que só desconfiam ou talvez nunca vão saber que são meus amigos! A gente não faz amigos, reconhece-os.

- Vinicíus de Moraes

19 de julho de 2010

“Um homem precisa viajar. Por sua conta, não por meio de histórias, imagens, livros ou TV. Precisa viajar por si, com seus olhos e pés, para entender o que é seu. Para um dia plantar as suas próprias árvores e dar-lhes valor. Conhecer o frio para desfrutar o calor. E o oposto. Sentir a distância e o desabrigo para estar bem sob o próprio teto. Um homem precisa viajar para lugares que não conhece para quebrar essa arrogância que nos faz ver o mundo como o imaginamos, e não simplesmente como é ou pode ser. Que nos faz professores e doutores do que não vimos, quando deveríamos ser alunos, e simplesmente ir ver.”

- Amyr Klink